Mesmo sabendo que o seu casamento foi estabelecido entre a sua família e o futuro marido como uma aliança de interesses, Lucrécia de Médici acredita que a sua vida em Ferrara será feliz. Apesar de soturno e severo, Afonso d’Este é um homem atraente e o seu comportamento agrada-lhe. Mas Lucrécia está longe de imaginar a verdadeira complexidade do temperamento do marido e o casamento será tudo menos idílico. Há algo em Lucrécia e na forma como a sua alegria se estende a todos que impede Afonso de se ligar verdadeiramente a ela. E, quando o Papa ameaça tomar posse de Ferrara caso o duque não consiga conceber um herdeiro, a relação já problemática de ambos torna-se fonte de raiva para um homem que, humilhado pela sua própria fraqueza, imagina ser motivo de troça para a sua jovem esposa. Mesmo sem saber as razões da alegria dela, Afonso sabe que tem de a silenciar…
Um dos aspectos mais curiosos deste livro é o facto de, apesar de ser fácil prever o rumo dos acontecimentos (até porque as primeiras páginas são bastante reveladoras), a autora consegue, ainda assim, surpreender pela forma como conduz o enredo para algo de inesperado no final. A relação entre Lucrécia e Afonso começa, desde cedo, a revelar-se problemática e não é difícil imaginar que, com todos os mal-entendidos entre ambos e, depois, com o segredo de Lucrécia relativamente aos pintores, a história terá de acabar em tragédia. A conclusão é, ainda assim, surpreendente, quer pela forma como as personagens mais improváveis acabam por interferir, quer pela ligação a pequenos momentos do enredo, cuja importância acaba por ser vital na inesperada conclusão da narrativa.
Centrada em grande parte na figura de Lucrécia, não há nesta história grandes desenvolvimentos a nível do contexto da época, dizendo estes respeito essencialmente à problemática da falta de um herdeiro para o ducado de Ferrara. Além disso, há algumas fases que ficam por desenvolver, já que a divisão do livro em três partes salta alguns momentos (destacando-se o período entre o primeiro contacto entre Lucrécia e Afonso e a data do casamento) que, se tivessem sido explorados, poderiam revelar bastante mais acerca das personagens. Fica, por isso, a impressão, nalguns momentos, de que mais haveria a desenvolver, quer a nível de contexto histórico, quer da caracterização das personagens. Ainda assim, o que é revelado é mais que suficiente para manter a envolvência da história e a personalidade dos protagonistas, com todos os seus contrastes, revela-se pelas acções que marcam o enredo.
Tendo em conta as diferenças de personalidade que separam Lucrécia de Afonso, bem como o papel que a ideia de humilhação desempenha na orientação dos gestos do duque, não é propriamente uma surpresa que não haja romance entre ambos. Há, ainda assim, uma parte romântica para o enredo deste livro e acaba por ser esta a base de alguns dos momentos mais interessantes. Por um lado, a história de Jacomo e o seu trabalho no fresco serve de abordagem, não muito elaborada, mas bastante interessante, aos procedimentos desse tipo de pintura. Por outro, há a forma como a relação com Lucrécia se desenvolve, simples e quase inocente, por oposição às complexidades da mente sombria de Afonso, dando alegria a uma história com bastantes momentos sombrios. Isto contribui para uma história mais equilibrada, já que a harmonia e o perigo dos momentos vividos com Jacomo acabam por contrastar com uma tragédia que, inesperadamente, se liga com outras razões que não as desse romance.
Envolvente e emotivo, A Sua Última Duquesa conjuga elementos de romance e de tragédia para dar forma a uma história que, apesar de relativamente simples, cativa pela intensidade dos momentos mais marcantes e pelo contraste entre a inocência do amor e as sombras de uma quase obsessão. Trata-se, pois, de uma leitura cativante e agradável, com alguns momentos particularmente bem conseguidos e um toque de inesperado no final. Uma boa história, em suma.
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