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O Livro Negro de Lawrence Durrell

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    O terceiro romance de Lawrence Durrell foi publicado em Paris em 1938, quando a amizade com Henry Miller implicou alguma influência do «Trópico de Câncer», que este publicara quatro anos antes. E a opção pela edição francesa, apesar dos enfáticos elogios de T.S. Eliott e Cyril Connoly ao manuscrito, teve a ver com a necessidade de evitar o puritanismo censório prevalecente em Inglaterra, já que tinha por personagens, alguns seres aterrorizados pela sua sexualidade e por isso a utilizavam enquanto instrumento de terror. Eles sofrem tal anorexia espiritual, que se impedem de se ligarem a outrem, condenando-se a uma solidão dentro do universo boémio londrino, apresentado como desmoralizado, niilista, sujo, angustiado e interessado num esoterismo livresco típico do puritano mais devasso.

    Durrell pretende demonstrar que a sexualidade aterroriza por ser intrinsecamente humana e inevitável onde quer que seja.

    Surgem assim dois narradores: Laurence Lucifer, que vive em Corfu e conta as suas experiências passadas quando era professor e vivia no Regina, hotel decadente de Londres. E há Herbert Gregory, autor de um diário íntimo – o tal «Black Book» – que Lucifer encontrara no quarto do hotel.

    Num processo estilístico, que utilizará amiúde no futuro, Durrell põe Lucifer a falar de Gregory e o narrador a comentar as opiniões daquele. Existem, pois, dois narradores a recorrerem ao mesmo material em duas épocas distintas, o que gera uma aparente confusão particularmente bem resolvida pelo autor.

    No Livro I Lucifer apresenta os personagens (Tarquin, Chamberlain, a prostituta Grace, Gregory, etc), projeta-os no espaço e fora do tempo (Vivo unicamente na minha imaginação a-temporal). A solidão está omnipresente, assim como a sexualidade. Os narradores, que nunca se chegam a encontrar, são outros tantos personagens.

    Quanto a Gregory, temos a sua dimensão temporal no diário, mas ao tê-lo utilizado por Lucifer, torna-se – mais do que uma cronologia – uma espécie de projeção unidimensional.

    O hotel povoa-se assim de sombras que, em vez de irem do passado ao presente, ficam retidos em «motivos».

    Na confusão de uma intriga quase surrealista aonde artistas e prostitutas se cruzam, a sexualidade acaba por triunfar e dá o seu tom ao livro.

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